Nota prévia: Não, não sou de uma espécie diferente. Sou da espécie
que a seguir enxovalho por isso mesmo, se quiserem, as notas que se seguem são,
em última análise, uma auto-crítica.
Notas soltas:
- trinta seres humanos drogaram e violaram
outro ser humano;
- um ser humano adulto, responsável por
seres humanos menores, em nome de um dos supostos criadores do ser humano,
prendeu pequenos seres humanos a sanitas, obrigou-os a conviver com os
cadáveres de outros seres humanos;
- seres humanos eleitos por outros seres
humanos derrubam outros seres humanos e aproveitam-se do poder de que foram
incumbido para olhar pelos interesses próprios.
Podia continuar com uma sequência
infindável de notas soltas sobre seres humanos. Fiquemos por aqui. Não me
apetece escrever sobre a violação colectiva no Brasil, o caso do lar cá em
Portugal ou a balbúrdia no poder brasileiro.
O ser humano perdeu a humanidade,
parece-me. E isso nota-se nas coisas pequeninas.
Dos pontos de onde me é permitido observar
e absorver aquilo que o ser humano é e faz vejo cada vez mais situações
absurdas, sem sentido, perdidas, incompreensíveis. A minha capacidade de
raciocínio revela uma incapacidade tremenda para encontrar razão em boa parte
do que vejo e ouço, em boa parte do que presencio.
Às vezes parece-me que o ser humano se
move pela ganância, pelo ter, pela pressão da sociedade. Move-se pela
inconsciência, pela ignorância, pelo egoísmo.
Às vezes parece-me que não se move por
estar agarrado pela apatia, pela dormência, pela resignação. Pelo medo também.
O medo dos outros. Do que os outros possam fazer, mas também do que os outros
possam não fazer e possam sentir. E o medo do eu. De falhar, mas também de
acertar.
Às vezes parece-me que o coração e o
cérebro do ser humano se deslocaram para o umbigo (com a proximidade aos
intestinos que lhe é reconhecida).
Que caminho segue este ser humano que
formou uma sociedade? Que caminho segue esta sociedade?
Chamem-me picuinhas, mas…
- dêem-me uma boa razão para abrir a janela do carro e deitar o
plástico da embalagem de pastilhas elásticas que acabei de abrir para a
estrada. Têm uma boa razão?
- dêem-me uma boa razão para passar à frente de alguém numa fila.
Têm uma boa razão?
- dêem-me uma boa razão para parar num semáforo quando este está
verde, só para que um amigo entre no nosso carro. Têm uma boa razão?
- dêem-me uma boa razão para levar para casa, retiradas do meu
emprego, resmas de papel, material de construção, livros, pensos rápidos. Têm
uma boa razão?
- dêem-me uma boa razão para marcar uma consulta ou um trabalho ou
um serviço com alguém e deixar a outra pessoa a esperar 5, 10, 20, 30 minutos
ou mais. Têm uma boa razão?
E agora dêem-me boas razões para:
- ver alguém deitar um papel ao chão e não chamar à atenção ou, na
pior das hipóteses, nós mesmos apanharmos o papel;
- tolerarmos que alguém passe à nossa frente numa fila;
- não denunciar alguém que claramente prejudica o lugar onde nós
trabalhamos;
- não fazer uma reclamação de alguém que não cumpriu com as suas
obrigações profissionais.
Têm boas razões?
Sei que são coisas pequeninas quando comparadas com roubos de
milhões, corrupção, violência, violações mas, corrijam-me se estiver errado, é
absurdo ver uma ligação entre estas coisas todas? A origem não é a mesma?
O ser humano educa pelo exemplo. Mesmo que não queira. E estamos a
educar tão mal! E a educação não é apenas das crianças e dos jovens porque
afinal de contas... aprendemos toda a vida.
O ser humano, e a sociedade que ele formou, está muito podre,
estagnada, pestilenta.
Apetece cantar isto:
J entregou uma pizza à Arrebentábolha, à fritei a pipoca
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