terça-feira, 26 de julho de 2016

Quem são 'eles' e porque o fazem?

dn.pt

A série de ataques que têm acontecido nos últimos dias são actos lamentáveis, em relação aos quais as autoridades devem ter uma estratégia de combate e prevenção. Mas qual será a melhor estratégia a seguir de forma a reduzir ao mínimo possível a ocorrência deste tipo de acções ‘extremistas’? A principal questão que deve ser respondida tem a ver com as motivações por trás destes actos, pois a compreensão da génese destas acções é o primeiro passo para uma estratégia eficaz de combate e prevenção. 
Parece trivial dizer isto, mas ninguém parece estar interessado em responder a esta questão, nem por parte das populações afectadas, nem muito menos das autoridades. Por trás de uma acção ‘extremista’ há sempre uma história para contar, e a comunicação social e autoridades não estão interessadas em conhecer e, muito menos, em partilhar essa história. Aquilo que nos é dado numa bandeja resume-se a um argumento rasca hollywoodesco, que começa com um acto tenebroso, passa pela perseguição com algum suspense, e acaba com o happy end da ‘neutralização’ dos maus da fita.
Mas quando os perpetradores destes actos são mortos, a fonte mais fidedigna de informação é eliminada, restando apenas alguns testemunhos de conhecidos ou familiares e a memória virtual das redes sociais e telemóveis. Mas isso é pouco, muito pouco, para se descobrir aquilo que motivou aquelas acções. Conhecendo as motivações, podemos distinguir claramente um atentado terrorista de outro tipo de acções ‘extremistas’, distinguindo motivações pessoais de motivações políticas ou religiosas. Conhecendo as motivações, podemos perceber porque aquilo aconteceu, porquê ali, porquê agora. Conhecendo as motivações, as autoridades e as populações poderão combater o problema na sua raiz, e não reagir de forma automática e inconsciente.
Mas não devemos confundir motivações com intenções. Por natureza, estas últimas não são comprováveis nem verificáveis. Excepto no caso de haver uma investigação em curso, e existirem provas materiais e irrefutáveis da preparação de actos criminosos. Mas prender primeiro, e investigar depois, é algo inaceitável num regime com base no primado do Direito. Quando as autoridades policiais e judiciais prenderem pessoas por tempo indeterminado, sem acusação, com base em possíveis intenções, saberemos que já deixámos de viver num regime democrático. E será uma questão de tempo as autoridades virem bater à nossa porta. 
R. entregou uma pizza #àcoçador

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Não é o fim do mundo, pois não??



Calvin and Hobbes- Bill Watterson



Eu ainda sou do tempo em que se dizia que depois dos atentados do 11 de setembro de 2001 o mundo nunca mais seria o mesmo. Seria? Na altura, o papão chamava-se Al-Quaeda, personificado na figura de Osama bin Laden. Com o anúncio quase em direto em maio de 2011,feito pelos polícias do mundo, na figura do simpático Barack Obama, da morte do diabo saudita, o mundo respirou de alívio. Era tempo de esquecer os aviões que chocavam com prédios e até os atentados de Londres (julho de 2005- 56 mortos e 700 feridos) e de Madrid (março de 2004- 191 mortos e perto de 2000 feridos) eram coisas do passado.

A crise financeira iniciada em casa dos polícias do mundo trouxe ao léxico comum palavras como subprime e Lehman Brothers. Nada que os mais insuspeitos banqueiros e chairmen  dum lado e do outro do Atlântico  não pudessem controlar,  dizia-se…. A Primavera Árabe, despoletada pela imolação de um jovem tunisino apenas cinco meses antes da épica retirada de cena do tal papão barbudo deixava antever a aurora de um admirável mundo novo. Tão diferente daquele que descreveu Aldous Huxley em 1932. Mas isso é outra história. Perdoem-me, mas acabei há pouco de o ler e ainda estou aturdido pelo embate. Continuando… Os temíveis déspotas que governavam as nações do norte de África e do próximo/médio oriente iam sendo “naturalmente” apagados. O mundo estava quase limpo. A política externa dos polícias do mundo mostrava sinais de mudança. Há muito que não havia cimeiras nas Lajes ou noutro lugar qualquer a promulgar novas invasões. Perdão, novas intervenções militares. No velho continente continuava a correria desenfreada aos boletins de candidatura a essa outra grande casa da democracia e da liberdade chamada UE. Os russos conseguiam que alguns desses boletins fossem extraviados. Mas tudo ia de vento em popa. Uns a contar tostões e outros milhões, mas nada que a Grande história mundial recordasse um dia. Eis senão quando, uns tipos mal encarados denominados deste lado de cá do mundo por Daesh, aproveitam a gasolina que um daqueles temíveis tiranos deixou espalhada nas cercanias, pelo simples facto de não ir em Primaveras, um tal de Bashar al-Assad, e resolvem pegar fogo à barraca. E foi um Ai Jesus!!! Cronologicamente e de forma resumida, perdoem-me se me esqueço de alguma “data”:
- janeiro de 2015 - França: vários ataques incluindo ao semanário satírico Charlie Hebdo fazem 17 mortes;
- fevereiro de 2015 - Dinamarca: Omar el-Hussein, dinamarquês de origem palestiniana, mata 3 pessoas e fere outras cinco;
- junho de 2015- Tunísia: 38 mortes num ataque a um hotel em Sousse, numa zona balnear;
- outubro de 2015, Turquia – Um atentado suicida faz 102 mortos e mais de 500 feridos em Ancara;
- novembro de 2015 - França: Os atentados perpetrados em Paris, no Bataclan e em vários bares e restaurantes no centro da cidade e perto de um estádio causam 130 mortes e mais de 300 feridos. Alguns dias depois no Líbano, um atentado contra uma base do Hezbollah, provoca 44 mortos;
- março de 2016 - Bélgica - Uma dupla explosão no aeroporto de Zaventem e uma outra explosão numa estação de metro, em Bruxelas, provocam pelo menos 34 mortos;
-junho de 2016 - Turquia - atentado bombista no aeroporto de Ataturk, em Istambul, faz mais de 40 mortos e centenas de feridos;
- julho de 2016 - França - O tunisino Mohamed Lahouaiej-Bouhlel provoca a morte de 84 pessoas quando conduzia um camião contra uma multidão em Nice. Na Alemanha, alguns dias depois, um jovem de 17 anos entrava num comboio, em Wurzburgo, com um machado e uma faca e ataca várias pessoas.
Mas que forma enfadonha é esta de estar na vida??? Sempre a arquitetar atentados...
E já agora para recordar alguns mais distraídos, poucos presumo eu, temos neste momento qualquer coisa como 60 milhões de refugiados, um terço deles no Médio Oriente. Raios os partam que continuam a querer atravessar o Mediterrâneo. Assistimos despreocupados à fome que faz a Venezuela entrar em convulsão. A falta de alimentos leva o país ao caos, com lutas por comida nas ruas e multidões invadindo e saqueando supermercados. Sofremos da amnésia coletiva que nos permite esquecer que na Ucrânia, a guerra entre o exército e os separatistas pró-russos já dura há dois anos, fez 9300 mortos e um milhão e meio de refugiados e o conflito não tem fim à vista. E ainda acompanhamos com evidente desinteresse a tentativa de golpe de estado na Turquia, onde mais um daqueles líderes carismáticos administra com primor um dos países do mundo com maior importância geoestratégica.
Mas e que faço eu com este chorrilho de informações chatas e desgraçadamente incómodas, perguntam vocês. Eu??? Eu junto-me a uns quantos milhões deste planeta e vou para a rua ajudar a alimentar os pobrezitos da Niantic Labs e da  Nintendo que criaram um joguito para o meu telemóvel que me permite apanhar 142 criaturas virtuais. O mundo pode esperar, o Pokémon Go não. 
A. entregou uma pizza #àirrevogável

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Nós merecemos melhor, muito melhor…

lusonoticias.com
Como seria o mundo se todos conservássemos a inocência e frontalidade de uma criança? Seria possível haver um mundo de adultos em que estes continuassem a ter os valores simples e básicos da infância? Como é que o Homem chegou aqui?
Há muito que sabemos que os valores que regem a nossa sociedade são cada vez mais efémeros, desonestos e fúteis. As coisas foram mudando, lentamente, sem nos apercebermos em que direcção caminhávamos. Quando as alterações são bruscas tendem a gerar reacções mas quando são feitas de forma faseada vamo-nos habituando. Não oferecemos resistência e deixamo-nos atropelar. Tenho sentido isto cada vez mais. Não sei se é por andar mais sensível ou por chegar a uma altura em que tudo o que me rodeia me parece irreal. As coisas hoje passaram a ser feitas à descarada, sem vergonha nem culpa. Podia estar a falar de milhares de coisas, das relações amorosas, da vida profissional, mas não, neste caso estou a falar daquilo que tem acontecido aos portugueses e à forma como vemos a nomeação dos nossos ex-governantes para cargos em instituições financeiras internacionais. Primeiro indignamo-nos com as nomeações para empresas nacionais e multinacionais, e estou a falar de pessoas como Jorge Coelho ou Eduardo Catroga. Mas essa indignação era pequena. Nunca passou de “arrufos de namorados”, daqueles que os próprios namorados acabam por esquecer.
Mas um dia, Maria Luísa Albuquerque, ex-ministra das Finanças durante a crise, é nomeada para uma das empresas que mais lucrou com a crise portuguesa. Vítor Gaspar, o seu antecessor, já tinha saído para ir para o FMI, a instituição responsável pela gestão da dívida portuguesa. Pouco tempo depois, Durão Barroso, ex-Primeiro Ministro português e ex-presidente da Comissão Europeia, é nomeado para a Goldman Sachs, um dos bancos responsáveis pela crise mundial que estalou em 2008 e que atirou a Europa, e especialmente os países periféricos, para uma crise económica e humanitária sem precedentes desde a II Guerra Mundial. 
E nós o que fizemos? Indignámo-nos; mostrámos desagrado. Sentimos nojo, vergonha. Sentimo-nos culpados. Tal como fazemos quando sabemos que alguém nos traiu ou que fomos agredidos. E depois? Estrebuchamos e esquecemos. Tentamos seguir com a vida para frente. E porquê? Porque reagimos assim? Porque não temos mais força para lutar? Porque não dizemos “basta, nós queremos melhor”. Nós, portugueses, merecemos melhores políticos, melhores governantes, melhores líderes e um futuro melhor. Mas, para isso acontecer, precisamos urgentemente tomar uma decisão: não podemos desculpar e esquecer. Temos que mostrar que o que aconteceu não foi apenas feio. Foi sujo e ultrapassou as regras da decência política e cívica. Temos que dar um pontapé e virar a mesa. Esta mesa há muito que está assente em pernas falsas. Os portugueses precisam de coragem para dar a volta à sua vida. Precisamos todos ter uma vida melhor. Porquê? Porque a merecemos.

C. entregou uma pizza #àtouquenemposso

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Get the F*ck Out of Here!

Brexit, ouviram falar?

Tenho andado num estado de estupefação relativamente a este assunto. Considero que os povos têm o direito (dever?) de dar a sua opinião relativamente ao destino que pretendem dar ao seu país. Os políticos e os opinion makers favoráveis ao brexit têm toda a legitimidade para argumentar no sentido de o Reino Unido deixar de fazer parte da União Europeia, tal como os defensores da permanência têm também o direito de apresentar argumentos que sustentem a sua posição. Os resultados obtidos no referendo do passado dia vinte e três de junho ditaram a saída do Reino Unido da UE.

Os resultados obtidos no referendo determinaram a demissão de Primeiro-Ministro Cameron do cargo que ocupava no Governo Britânico. Normal, tendo o homem defendido a permanência do Reino Unido na União.

(Sou só eu que que acho estranho que o homem que propôs a realização do referendo, numa manobra de pressão sobre a União Europeia e tenha defendido durante meses de forma subreptícia e tão britânica, que se calhar, o UK estaria melhor fora da UE, faça depois campanha pela permanência?E que depois, qual virgem ofendida se demita por não ter conseguido que o seu lado da questão fosse vencedor?)

Pouco tempo depois os partidários da saída do UK vieram reclamar vitória, dizendo que era a vitória da independência do Reino Unido e que o povo britânico era novamente dono do seu destino. A coisa começa a descambar, quando nas semanas seguintes, cada um dos líderes dos partidos políticos e movimentos partidários do brexit começou a abandonar o cargo que ocupava. Baralhados?! Eu confesso que sim. Baralhado e perplexo perante as declarações do ex-líder do UKIP que diz que atingiu o objectivo a que se propôs, que nunca quis ser político e que portanto se demitia do cargo de líder porque tinha conseguido aquilo a que se tinha proposto.

Say what?!
Então este senhor, líder de um partido político nacionalista, vagamente xenófobo, anti-imigração, consegue convencer a maioria do eleitorado britânico a votar favoravelmente a saída do seu país da UE e depois demite-se? Era esse o projecto político? Tirar o país da União Europeia e a seguir virar costas? O que pensarão agora os militantes do UKIP? Que orgulho! Faço parte de um partido político que tinha como único objectivo que o Reino Unido saísse da UE! E a saúde? E a educação? E a segurança? E as políticas económicas? E as finanças do país?

Tempos perigosos estes em que se reduz um projeto político a uma única acção sem ter em consideração as consequências. A libra está em queda livre. Há rumores fundados de fuga de capitais e de empresas para outras paragens. O número de pedidos de informação sobre as condições para aceder ao programa português de vistos gold subiu exponencialmente desde que se soube o resultado do referendo.

Mas espera aí... de que país é que estamos a falar? Do Reino Unido! Aquele país que aderiu à União Europeia em 1973 e que não aderiu ao espaço Schengen e por isso tem controlo fronteiriço (o que não impediu os lamentáveis atentados em Londres), não aderiu à Moeda Única (e por isso tem a libra esterlina como moeda oficial) e na verdade, esteve dentro da União, mas com um pé fora. Então, a saída da UE vai fazer de facto alguma diferença?

É uma boa pergunta. Vamos esperar para ver o que vai acontecer. Para já "os mercados", esses abutres andam a rondar a carcaça ensaguentada do Reino Unido à espera que o corpo moribundo dê o seu último suspiro.

E. entregou uma pizza #à centrão bipolar, #à políticamente irrelevante; #à fritei a pipoca
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