sábado, 12 de novembro de 2016

Trump... Como? Porquê? E agora?

Desde quarta-feira de manhã, depois de saber os resultados das eleições presidenciais norte-americanas, que busco algum sentido para o que se passou (desde a falha das sondagens – que começa a ser mais uma regra do que uma exceção – ao epicentro deste sismo), tento ver as reações que se multiplicam e procuro as opiniões que projetam as visões pessoais do que aí vem.
Tenho lido artigos, visto vídeos, acompanhado as notícias. E, pelos vistos, terei errado nas fontes que pesquisei. Comecemos pelo que pode estar na origem da eleição de Trump e do tal erro que cometi.
De acordo com este artigo uma das explicações para o que se passou nos EUA, assim como no Reino Unido com o Brexit, assim como se passa na Turquia, assim como se poderá passar no próximo ano na França, assim como se passa um pouco por todo o mundo, é que as pessoas se encerram nos ciclos em que encaixam (vejam o exemplo das redes sociais: de uma forma geral as pessoas a quem estamos ligados são pessoas com quem temos afinidades). E não só nos encerramos nesses círculos como buscamos a informação nos meios, nas páginas, nos sítios que nós consideramos fidedignos e que, de alguma forma, refletem aquilo que nós achamos correto.
Aparentemente esta é uma das razões pelas quais meio mundo (ou mais) ficou atónito com o que se passou no passado dia 8 de novembro. Quem não esperava que o boçal do Trump ganhasse estava seguro disso mesmo porque na sua lógica tal não poderia acontecer e os media e as redes sociais acompanhados/consultados asseguravam esse raciocínio. Estávamos (e estamos) fechados nos nossos mundos e esquecemo-nos que há quem tenha uma perspetiva contrária, quem discorde, que se oponha.
E eis que nos enganamos!
E as sondagens? Essas também se enganaram e talvez tenham sido causa e efeito do seu próprio erro. Quem nos garante a objetividade dos estudos de sondagens? Que garantia temos de que as pessoas que respondem correspondem às que votam? E que garantia temos de que dão as respostas verdadeiras? Aparentemente não temos garantias nesses campos e os exemplos da falibilidade das sondagens acumulam-se (e ainda por cima em casos de dimensão internacional).
Michael Moore, o realizador de Bowling for Columbine, Fahrenheit 9/11 ou, claro, Michael Moore in Trumpland, foi um dos que previu a vitória de Trump. Um dos humanos. Além dele também os criadores dos The Simpsons previram de alguma forma a vitória e com anos de antecedência. Num dos episódios de 2000, Lisa, já adulta, sucede a Trump na presidência de uns EUA falidos!
Mas voltemos a Michael Moore. No seu site o realizador americano apresenta um texto de opinião em que fundamenta a sua predição com cinco pontos que se vieram a revelar corretos. Moore fala sobre:
1.       a aposta de Trump no Rust Belt. Ohio, Michigan, Pennsylvania e Wisconsin, estados tradicionalmente mais azuis (todos penderam para Obama em 2012) seriam forte aposta de Trump, na procura de conquistar os insatisfeitos trabalhadores da faixa industrial. E que o magnata conquistou os quatro estados!
2.       o grito do Ipiranga dado pelo Homem Branco de Meia Idade e Colarinho Azul, Formação Reduzida e Religiosidade Acentuada.
3.       a falta de popularidade de Hillary. Uma personagem pouco cativante, com o nome manchado pela história explorada até à exaustão dos e-mails e oriunda do mundo da política (aquilo que poderia passar por um trunfo era, afinal, um calcanhar de Aquiles).
4.       os democratas desanimados Pro-Sanders. Uma parte destes não teve estômago para ir votar em Hillary. Outros resolveram votar em Jill Stein. E os que foram votar em Hillary não tiveram a capacidade de contagiar e arrebanhar outros eleitores.
5.       o curioso efeito a que chamou Jesse Ventura Effect (em referência à eleição, há uns anos atrás, de um wrestler para Governador do Minnesota). Este efeito refere-se àquela atração pelo abismo que às vezes sentimos quando estamos na beirinha de um penhasco. Vamos lá a admitir (eu pelos faço-o)… uma parte mais negra de nós não deixou de sentir alguma curiosidade quanto à possibilidade de ver o pateta do Trump no poder. O que acontece é que algumas pessoas resistem a essa curiosidade. E outras não!
E assim, sem estarmos preparados para tal, temos um Trump presidente!
E agora? Bem… o futuro parece assustador, não é?
Trump já nos mostrou a sua fraca capacidade de encaixe, o seu ego inchado, a sua impreparação. Durante a campanha das primárias foi… bem… primário. Na campanha das presidenciais pareceu tentar controlar-se mas sem, contudo, deixar de dizer alarvidades. E o mínimo aperto ou confrontação levou-o a descontrolar-se, irascível e infantil ao mesmo tempo.
No discurso de tomada de posse teve a postura mais branda que lhe vi até então. E no momento em que foi recebido na Casa Branca por um Barack Obama ao mesmo tempo polido e atónito comportou-se como seria espectável naquelas circunstâncias e com aquelas personagens. Mas bastaram as primeiras (quanto a mim inconsequentes e em breve terminadas) manifestações de desagrado para o homem dar ao dedo no Twitter! Não pode ser Senhor Presidente dos Estados Unidos da América!
Donald Trump é um homem imprevisível que agora ocupa um lugar que não permite tal traço de personalidade. E vai ter, seguramente, um partido, um Congresso e um Senado que, apesar da sua cor, lhe toldarão e moldarão alguns passos. Mas aí Trump corre o risco de não corresponder ao seu eleitorado, o que será, a meu ver, um tópico muito delicado de gerir. Como reagirá a massa que elegeu Trump com vontade de dar uma abanadela ao sistema quando perceber que afinal será mais do mesmo?
A entourage formada em redor de Trump consegue ser tão ou mais assustadora que o próprio. Nomes como Sessions, Palin, Priebus, Gingrich, Christie, Juliani e, claro, Pence, não auguram nada de bom e por isso, em parte vamos ter de confiar no próprio Partido Republicano para controlar os seus! Pode acabar por acontecer que o partido se… parta e estas eleições sejam a pior coisa que já aconteceu ao GOP e a melhor (depois de uma lavagem que deve seguir-se a estas eleições) que se passou com o Partido Democrata (quem sabe se Sanders volta em 2020!)!
Pelo mundo fora a expectativa acumula-se e a incerteza também. Desde perspetivas que apontam no sentido de os EUA podem ter visto a democracia morrer por ser precisamente demasiado democrática, até àquelas que preveem que a vaga iniciada com o Brexit e consolidada com Trump se alargue à Europa tendo como potenciais consequências conflitos armados nucleares.
A verdade é que os próximos tempos e em particular os primeiros 100 dias da governação de Trump deverão esclarecer-nos sobre o que aí vem, sobre o que se passará nos EUA, sobre a dimensão das ondas que se vão propagar pelo mundo inteiro.

No entretanto, e para acabar onde comecei, volto ao artigo que recorda os ciclos da história para concordar com a opinião do autor. Se calhar está na hora de estabelecer ligações entre as redomas e não de as tornas mais espessas e opacas. Para bem de todos.

J. entregou uma pizza #à coçador

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